segunda-feira, 30 de junho de 2008

Instruir e Educar

José Siquara da Rocha*

Significados distintos pedem raciocínio

Aparentemente uma grande, enorme preocupação das pessoas, das entidades, dos governos, é Educar. Os candidatos políticos, no afã de conseguir eleitores e votos, têm como grande meta a Educação. A imprensa falada, escrita e televisada, falam constantemente em Educação, e queixas e informes se avolumam sobre verbas para... Educação.
Mas... só que, parece, ninguém se dá conta que o que se visa realmente é a instrução, e instruir não é educar. O homem instruído, erudito, culto, pode não ser educado. A instrução pode começar em casa, passa à escola, onde tem o seu trabalho básico, vai à Universidade, quando vai...
Mas a Educação, como se diz vulgarmente, vem do berço. E até, como hoje é de conhecimento mais ou menos corrente, começa no ventre materno. A mãe, os pais, já podem começar a educação do seu filhinho durante a gestação, com ele conversando, dispensando muito carinho e amor.
Instruir é uma coisa; educar é outra coisa e de muito mais valia e dificuldade, porque o homem se instrui, ganha conhecimento mais facilmente do que se educa. A educação, diga-se de logo, é construída de dentro para fora; o homem passa por um processo de auto-educação. É como a felicidade: vem de dentro; nada de fora nos torna felizes. O homem verdadeiramente educado é um homem feliz.
A instrução coleciona fatos, conhecimentos; a educação junta valores. Esses valores valorizam os fatos. A instrução facilita ao homem os meios necessários à sua vida profissional. A educação desenvolve no homem valores que nele existem potencialmente e que o transformam em um ser humano harmonioso e bom, em condições de ter paz interior e poder influenciar para que haja paz em seu redor... e mais além.
O homem evolve verdadeiramente quando tem em si instrução, conhecimento, educação e valores morais.
A grande missão, o grande trabalho de Jesus foi mostrar ao homem a sua origem divina (Vós sois deuses...), nele despertando valores, condições morais, o que era então quase desconhecido, executando-se os ensinamentos de Buda, Sócrates, Platão etc. etc. E Ele, Jesus, ainda hoje, é muito pouco compreendido.
Já no século XX Einstein dizia que a ciência e a técnica são muito importantes, mas não podem fornecer ao homem a exata finalidade de sua existência aqui no planeta. A ciência e a técnica lhe dão condição de descobrir fatos, podem dar conforto, saúde, prolongar a vida, mas não podem criar valores que influenciam dentro de nós, despertando o divino que lá está.
No processo educativo é necessário desenvolver em cada um a tolerância, a compreensão, a afabilidade, a generosidade, a fraternidade, o sentimento de justiça, o amor. E assim, todo o homem que é potencialmente bom, mostra então a sua bondade natural.
A presença da maldade é o resultado do não desenvolvimento desses valores. Ela existe e isso não se discute; mas pode deixar de existir, se houver aquela mudança interior, aquele tratamento. Tratamento sim, porque a maldade é doença que pode ser curada. O que existe pode deixar de existir.
Quem se propõe educar precisa, pois, ter conhecimento básico de que é necessário desenvolver no educando a compreensão de por que aqui estamos, da finalidade de cada existência, da importância de cada um de nós como co-criadores do cosmo, da própria responsabilidade em ser feliz e partícipe do bem estar geral.
O mundo será bem melhor na medida em que os homens se instruam e se eduquem. A Evolução se faz, queiramos ou não, mas é muito lenta.

*O autor é Bacharel em Ciências e Letras, Médico e professor de Esperanto. Tem livros publicados e atua no movimento espírita baiano.

Fonte: O Clarim – dez/2004

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